A transparência salarial é um tema cada vez mais discutido no mundo corporativo. Diversos estudos apontam os benefícios que a exposição desse dado pode trazer para funcionários e empresas, tais como redução da desigualdade de salários e melhoria do clima organizacional.
No contexto específico do processo seletivo, a transparência salarial ajuda a garantir uma remuneração mais justa e alinhada com o mercado e também com o candidato.
Ao divulgar os valores das vagas em aberto pelas empresas de recrutamento, os profissionais podem avaliar se a proposta está de acordo com suas expectativas e com a sua experiência, evitando perda de tempo e esforço em processos seletivos que não correspondam às suas expectativas salariais.
Além disso, a transparência salarial pode combater a discriminação salarial, garantindo que mulheres e minorias recebam remuneração justa e igual a de outros funcionários.
No último dia 30 de março, a União Europeia aprovou uma nova lei para combater a desigualdade de salários em todos os 27 países membros. A lei exige que as empresas com mais de cem funcionários divulguem relatórios sobre a disparidade salarial detalhada por gênero.
No Brasil, a discussão precisa evoluir. Está em tramitação no Congresso Nacional o Projeto de Lei 1149/22, que obriga empresas com mais de 20 funcionários a divulgarem a faixa salarial e todos os requisitos para preenchimento de vagas. No entanto, desde que foi proposto, em maio de 2022, ainda não foi designado para a Comissão de Trabalho da Casa Legislativa.
Ainda, os dados coletados pelo IBGE por meio do Cadastro Central de Empresas, o Cempre, também incluem empresas e informações econômicas. Vale a pena notar, porém, que embora as informações salariais possam ser divulgadas, elas ainda não são obrigatórias por lei e, em última análise, ficam a critério da empresa. Se a moda pegar, o Brasil se tornará um polo.
No campo do recrutamento de talentos, algumas empresas já estão fazendo da transparência uma prioridade. A transparência salarial deve ser defendida, uma vez que divulgar os valores salariais no início do processo seletivo pode minimizar a burocracia e garantir que os candidatos que se candidatam a uma vaga tenham expectativas realistas.
Ao sermos francos sobre os salários, existe maior engajamento de candidatos na posição e, desta forma é possível eliminar candidaturas que podem estar interessadas em uma posição, mas que desejam salários além do nosso alcance.
Quando há a liberdade de abrir valores, é possível perceber uma busca mais assertiva e até mesmo mais candidatos adequados ao perfil. Para isso, é preciso que os recrutadores estejam atentos para avaliar cada candidato com relação às suas pretensões salariais e se o conhecimento técnico está à altura do pretendido.
Ainda dentro dessa linha de pensamento, é preciso lembrar que, de acordo com o Guia Salarial 2022, cerca de 70% dos executivos acreditam que terão mais dificuldade para encontrar talentos no mercado de trabalho, o que pode indicar que o mercado pode estar inclinado à nova realidade de divulgação da informação.
Do outro lado, muitos são os motivos que fazem com que empresas não divulguem a faixa salarial das vagas, e uma delas diz respeito à crença de que isso pode tornar o processo seletivo mais eficiente, com uma maior procura de candidatos.
No entanto, é preciso ressaltar que essa prática pode não garantir a qualidade dos candidatos e ainda desestimular aqueles que são realmente qualificados. Fato é que a discussão precisa existir, afinal, se a moda pegar os processos de recrutamento e seleção serão transformados – para melhor. Por Christina Curcio, CEO da Icon Talent, empresa de recrutamento em TI.